Eu já fui melhor.
Faz tempo. Você ainda existia na minha vida como uma ingênua menina que vivia se alimentando de pizza e comidas práticas, e pesava sobre minhas costas esse nosso amor de concreto (concreto mais parecido com gelatina). Desculpe-me, minha nobre. Por todas essas confissões dolorosas como a força do martelo que usaste pra tentar me assustar causou a mim.
No começo foi tudo lindo e meloso (semelhante à calda dos sorvetes prontos), como todo relacionamento bem rotulado. Mas você foi a primeira a não me fazer pouco surpreso com a sensação que crescia dentro de mim de imediato (mas veio aos poucos) e a última que me deixou em cubos, isso talvez se. Você é forte o suficiente para ficar protegendo tanto o seu coração quanto o meu? Quem é o traidor? Quem é o assassino no meio da multidão?*
(...)Flashback
Mas eu sou um cara. Um cara que te ama. Um cara.
-Vem cá, minha dona. Me agarra pelo pescoço, se envolva nos meus braços. Eu aperto tua cintura e te mostro a sintonia da música. Se a senhorita quiser, eu mostro quem manda aqui. Mas me perdoe, dessa vez quem mandará não será você.
- Faz o que quiser comigo.
- Não ouse.
- Ouso. Faz.
(...)
Três anos se foram num fechar de olhos e tudo o que eu quero é que um ano passe num piscar. Relação que envolvia sexo de forma que qualquer ser no mundo há de querer, mas não a cumplicidade para dividir contas, principalmente a do supermercado envolvendo alimentos não-pré-cozidos. Tentamos.
Você deu a louca e soltou as feras pelo quintal da sua mente. A segunda gaveta.
Você estava com tudo pronto para tentar me atacar. Me assustar.
Pegou-o com as duas mãos. O martelo. Pressionou-o sobre aquele troço.
(Todas as coisas que vivemos vindo em mente:
*Nós juntos num parque, comendo sanduíches do McDonalds
*Nós, tomando banho juntos
*Seu sorriso ao acordar
*Meu olhar profundo no teu
*Eu na cozinha preparando o almoço e você sentada com o banquinho de plástico e sua cerveja na mão direita, me olhando, ingênua)
Pegou-o com as duas mãos. O batedor de carne que guardávamos na segunda gaveta da cozinha, mas que só eu utilizava porque você não sabia fritar um ovo e vivia quase sempre de FastFood.
Com toda a força, foi pra cima, pressionou, e sangrou.
Você começou a bater na carne, amaciando-a, (aquele bife que eu nem me lembrava de ter ido ao mercado comprar, já que nunca comprávamos coisas semelhantes se não fosse para eu preparar). Picou-a, colocou-a na panela e fez o almoço.
Fiquei atônito, te fitando. Que porra era aquela? Você aprendeu a cozinhar?
E eu achando que esse dia nunca chegaria. Quanta força. Me causou dor, porque você com toda essa animação de me mostrar seus novos dotes, rachou o mármore da nova pia da nossa cozinha.
Quanta dor, Ju. E orgulho. Tudo bem.
Antes eu era o consagrado imaginário Chef dessa cozinha.
Mas agora eu sou um homem. Um homem que agora se alimenta de comida fresca e caseira. E que aprendera o que é um sentimento que vem aos poucos mas que chega: amor pela cozinha. E susto. (Brincadeirinha, Juju. Sua cozinheira insana).
*Parte traduzida da música Heavy In Your Arms-Florence + The Machine
Mas agora eu sou um homem. Um homem que agora se alimenta de comida fresca e caseira. E que aprendera o que é um sentimento que vem aos poucos mas que chega: amor pela cozinha. E susto. (Brincadeirinha, Juju. Sua cozinheira insana).
*Parte traduzida da música Heavy In Your Arms-Florence + The Machine
3 comentários:
O súbito entusiasmo;
Foi isso que senti,
ao ler-te.
Paz.
Fiquei a seguir.
Não sei o motivo mas,
o comentário acima,
'sendo ele, meu', foi-se
com outro perfil.
Esse é o real. (risos).
Um abraço!
Adorei!
Achei que tinha tido um fim, mas me surpreendi com a reviravolta do final.
Você escreve muito, muito bem. Gostei mesmo!
Beijos :)
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