quarta-feira, 2 de novembro de 2011

77

Duas mãos são uma. Uma minha, uma tua. Entrelaçadas, grudadas; juntas.
Tenho cultivado o costume de me embriagar. Teu perfume me deixa zonza, tonta, e vem, vem pra perto. A dor de cabeça some, as letras formando palavras na cabeça também. E só restamos você e eu. 
Ultimamente tem me restado você em todos os cantos. Todos os cantos da cidade, todos os cantos da minha cabeça, todos os cantos no meu abraço. Sobra mesmo muito espaço no abraço, e te deixo preencher essa coisa toda. 
Você ainda tem que precisar muito de mim, mais do que eu já preciso de ti.  Eu ainda tenho que te amar por muitos mais dias por vir, mais do que já amei em 77 dias. E todos à nossa volta dizem, é pouco, guria, é pouco, desencana, gruda não. E grito pra todos seguirem em frente, mas atrás de nós. Porque seguindo eu quero o nós, na frente eu quero tu.
Na frente de todas as minhas vontades, de todos os meus pensamentos, de todos os meus desejos. Na frente.
De todos os meus gritos, de todas as minhas palavras. De toda essa saudade. 
Teu cheiro me deixa calma, meus olhos nem abrem mais. Minha boca deixa escapar sorrisos sem querer, e eu ainda pensei em manter esse jeito frio e incalculável presente.
Você na minha frente, teu perfume em todas as minhas roupas, um travesseiro e um cobertor nos basta.
Com todo o meu amor, você me basta.
E te quero, sempre, todos os dias.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Old town.

Viagem. Sinto falta de viagens. Daquelas em que eu sentava no carro, bem do teu lado, e infiltrava meu rosto no vento. 150km/h, vai mais rápido, vai mais rápido, para não. Vento daqueles de quando a gente enfia o rosto e perde o fôlego. Vento daqueles que se transformam em nostalgia e viajam pro passado. 
E eu continuo sentindo falta e precisando de viagens. Sentindo falta de você, daquele teu carro preto, qual era a marca, mesmo? Ah sim, aquele Celta 2005, semi-pago, quatro anos parcelados haviam sido pagos, faltavam outros quatro, e desististe. Vendeste o carro, junto dele, o que eu ainda conseguia lembrar. 
Sinto falta de ti, sinto falta do carro, sinto falta daqueles tempos. Moletom em cima, moletom em baixo, tênis nos pés. Tantos prédios, prédios, prédios, aquele era nosso lar, aquilo era o que eu chamava de meu.
Tudo que é meu, pode ir. Tudo que é teu, pode vir. Tudo o que permanece a nós, pode despermanecer. E então desejei permanecer a ti assim, com essa palavra mesmo, com esse sempre, SEMPRE, assim, letras maiúsculas, caps lock ativada.
Então fostes; altos mares, águas, pessoas novas, nada de carros, nunca, não aos carros. Não a mim. Nada de prédios e vento, ah beibe, vento só se for das tempestades que tenho enfrentado. Não mais aquele vento de verão, enquanto desciamos a serra rumo á Santos. 
Por isso procuro nos lugares, o teu perfume. Sim, ainda lembro o nome, aquele aroma forte e inesquecível de kenzo-flower, maldito perfume, maldito, que nunca me solta. Ainda sinto teu cheiro em lugares desconhecidos. Em casa, metade do salário vai em incensos, não quero teu cheiro aqui. Aquele CD que ouvíamos juntas, ah sim, tá lá no armário daquele quartinho-de-bagunças-onde-jogamos-qualquer-coisa-minúscula-ou-superficial. The Corrs - Unplugged, capa empoeirada. You're forgiven, not forgotten. You're forgiven, not forgotten.
Viagem. Sinto falta de viagens. Daquelas em que eu sentava no carro, bem do teu lado, e infiltrava meu rosto no vento. 
Não existes mais aqui.
Agora há apenas um ventilador soprando vento artificial sobre minhas pálpebras.
Volta.