Não sei exatamente qual meu papel aqui. Meu papel talvez seja preencher as folhas de papel com transbordações do que as coisas me preenchem. Pareço e sinto estar contida não no que me contém, no que me possui, mas no que desejo possuir. Eu vim para isso, e por isso ainda permaneço aqui. Mas não ei de permanecer. Quero mesmo é expandir-me pro que quiser à mim, pra quem quiser, e fazer querer quem não quer. Arrependimento ainda assim torna-se material para recordar.
Almejo conter os sons, as músicas, os mais belos poemas e textos, traços, gentilezas. Os calores, as friezas. Amores, desamores, súbitos entusiasmos de uma só noite ou dia certamente entrarão na bagagem. Gozar do gozo que sentirei. Cada ponto de meu passeio eu anseio por não esquecer.
Esparramar-me-ei. Direi à tantos as palavras de mais doce aroma e darei os beijos de mais suave e profundo sabor. Doarei-me por inteira e conhecerei seus inteiros também. Compartilharei de minha melancolia e júbilo. Mostrarei minhas faces e permitirei que anseie, almeje por mim, ou que simplesmente me escarre para fora de sua estrada. Irei-me. Não por desamor ou ausência brusca, mas porque cada um deve entender a sua hora.
Conhecerei lugares de certos corpos por mais de dez vezes e outros nem sequer uma inteira e completa vez; para nunca mais.Ah, passear. Para ser, deixar-se levar, mas nunca influenciar.
Permanecer o quanto for,
Ser o que a vida me permitir criar e compor.
Compor à mim, do jeito que for, com essa ânsia do posterior.
Todo passeio tem seu fim, e o fim é a casa, o lar, o mar; o inalcançável abismo de onde criei minhas raízes que fincam-se no acaso.
"Quero ser a cicatriz risonha e corrosiva."