segunda-feira, 17 de setembro de 2012

Bossa nova, ou velha demais

 Você sabe minhas maiores desventuras. Meus maiores segredos. E eu? Eu não sei quase nada de ti. Não sei nada de ti além de que você é a guria que me faz prender a respiração cotidianamente. Desviar o olhar por esforço. Não sei nada de ti além de que faz tempo que sei que você existe - pra  mim e pro mundo. Você existe mais do que existe no viver. Você existe, e é vista. 

Já escurecendo, o sol se pôs dentre as montanhas. Saio pela rua. A cada lugar que passo me lembro de cada momento que deveria ter sido esquecido, mas não foi. Minha força de vontade nunca foi tão falha: quero esquecer-te mas não me deixo fazê-lo. Parece que me lembrar de tudo o que me tortura me faz mais viva. É como se eu tivesse o que contar... E contar que alguma coisa na vida eu já senti, além do vazio.
São muitos escrúpulos, tudo o que senti. 

(Um tempo depois)


Após rodar por aproximadamente meia hora ao redor de lugares pseudo-familiares, brevemente chego à sua casa, cuja janela do quarto está aberta - aquele calor extremo. E pela janela te observo, chego de mansinho, como sempre. Você e sua mania de se concentrar no espelho, planejar seus discursos na mente e esquecer do mundo.

 Para de olhar pra esse espelho, e ve se olha pra janela... Oi, cheguei. É bom estar aqui. - sorrio, mas querendo refletir sobre o que conclui.
– Não tenho tempo de olhar pra janela. Tenho uma vida inteira à estudar e muita Bossa Nova pra absorver (risos).
Tiro meu papel amassado do bolso, abro e me torno parte do escrito, em forma de voz:
  O seu tempo está passando. Tu vê? O meu também. Logo chego nos vinte e um. O mundo se acaba, Laura, meu amor! As pessoas se transformam. As pessoas se tornam indivíduos calados. Todas perdem a voz. Tornam-se mudas por opção. Isso é tão estranho. - Paro pra tossir, e então apoio meus braços na janela, te observando. - Sei que tu sabe que jamais cursaria direito. Te digo agora que dessa vez eu peço que apenhas venha. E não vá. Eu não quero mais ter que te esquecer todas as noites antes de dormir, pra dormir em paz e não imaginar tudo o que já se passou, toda aquela turbulência. Assuma que me ouvir sussurrar todas aquelas músicas é uma delícia, e que você quer permanecer o fazendo. Mas como você sabe, essa história é velha. E eu quero ver você se aventurar por outros gêneros musicais e conhecer as paisagens e cores que o dia tem. Você precisa decidir, porque nem só de faculdade e bossa nova se vive. Na verdade, desse jeito, se vive bem infeliz. Vamos juntas?






  Não. Eu não tenho tempo pra amar.

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